Memórias de minhas primeiras leituras.
Tremia de frio na solitude de meu oitavo inverno.Sempre apreciei as baixas temperaturas, assim sentia minha calidez como se fora sinal de vida em mim.O Pica-pau me irritava e mais ainda as risadas que todos cuspiam no ar a cada “hehehehehe...” do pestilento e previsível animalzinho televisivo. Eu não tinha permissão pra mexer entre as coisas de minha irmã, mas nunca segui as regras, sempre as desvirtuei e quis afrontá-las só pelo prazer de fazê-lo. Sou filha caçula..caçulas têm prazer em irritar.Entre Júlias, Sabrinas e Biancas que sempre me pareceram mulheres sem nada a dizer, encontrei a voz masculina de William Somerset Maugham. Sempre me relacionei melhor com a objetividade masculina que com as complexidades femininas.Não imaginava possuir em minhas pequenas mãos pueris obra tão inquietante. Ao ler suas páginas de lutas redentoras, perguntas inquietantes, pensamento profundos acerca da morte e d’alma...não suporia, em minha ingenuidde de leitora exclusiva de cartilhas escolares, estar entrando no mundo da verdadeira leitura. Aquela que diz à alma, crava no peito e prende, suspende a respiração.Fio da navalha me parecia um nome irritante. Peguei-o porque queria afrontá-lo.Sempre mostrei a língua ao que me assutava. E facas, navalhas sempre provocaravam arrepios gélidos pela minha coluna. Lembro da sensção ímpar de aspirar o odoro mofado da sabedoria alí esquecida no meio das mulheres-papel.Como nenhuma Júlia, nenhuma Sabrina ou Bianca sequer dera uma piscadela ao Billy? Tomei-o pra mim. Entre tantos beijos sabidos, finais felizes iguais daqueles outros, minha irmã não sentiria falta. Não sentiu. Depois de Billy, a biblioteca antes gélida de minha escola parecia aconchegada pelo calor tênue de uma lareira. Tornou-se meu lugar preferido..antes mesmo que dentro de mim.Cada dia um livro, cada livro mais descobertas, mais sede, mais desprezo pelo animalzinho televisivo.Quando pensei que tudo nas letras era bom, descobri que alguns eram ainda mais saborosos. Aos 11 anos já trocara os programas infantis pelos jornais, o pique-esconde só me parecia interessante se soubesse que minha mãe pararia de repetir: “ Larga esse livro, vai brincar!”.Ler me transportava, fazia sentir plena, me ensinava sobre o Louvre desconhecido para minhas amigas de roda.Conheci os canais de Veneza em seus tempos gloriosos, sem ratos..rs. Caminhei por muitas estradas nas páginas lidas.Estradas de chão batido, estradas de concreto, estradas da alma. Na maioria delas, esquecia minha solitude ao lado de personagens que nasceram e morreram em páginas de papel, outros nasceram na vida e após morrerem nela, viveram nas linhas escritas.De repente, tudo se fez luz. E a luz veio da escuridão de Byron e Poe. Tornei-me amante da obscura, atormentada e tempestuosa arte de ambos. Lê-los me levou a Kafka, Nietszche... e todos me levaram a muitos outros caminhos.Na maioria das vezes jornadas solitárias,mas ainda assim únicas e povoadas, cheias do que eu ansiava. Assim dei meus titubeantes primeiros passos no mundo da leitura.
Tremia de frio na solitude de meu oitavo inverno.Sempre apreciei as baixas temperaturas, assim sentia minha calidez como se fora sinal de vida em mim.O Pica-pau me irritava e mais ainda as risadas que todos cuspiam no ar a cada “hehehehehe...” do pestilento e previsível animalzinho televisivo. Eu não tinha permissão pra mexer entre as coisas de minha irmã, mas nunca segui as regras, sempre as desvirtuei e quis afrontá-las só pelo prazer de fazê-lo. Sou filha caçula..caçulas têm prazer em irritar.Entre Júlias, Sabrinas e Biancas que sempre me pareceram mulheres sem nada a dizer, encontrei a voz masculina de William Somerset Maugham. Sempre me relacionei melhor com a objetividade masculina que com as complexidades femininas.Não imaginava possuir em minhas pequenas mãos pueris obra tão inquietante. Ao ler suas páginas de lutas redentoras, perguntas inquietantes, pensamento profundos acerca da morte e d’alma...não suporia, em minha ingenuidde de leitora exclusiva de cartilhas escolares, estar entrando no mundo da verdadeira leitura. Aquela que diz à alma, crava no peito e prende, suspende a respiração.Fio da navalha me parecia um nome irritante. Peguei-o porque queria afrontá-lo.Sempre mostrei a língua ao que me assutava. E facas, navalhas sempre provocaravam arrepios gélidos pela minha coluna. Lembro da sensção ímpar de aspirar o odoro mofado da sabedoria alí esquecida no meio das mulheres-papel.Como nenhuma Júlia, nenhuma Sabrina ou Bianca sequer dera uma piscadela ao Billy? Tomei-o pra mim. Entre tantos beijos sabidos, finais felizes iguais daqueles outros, minha irmã não sentiria falta. Não sentiu. Depois de Billy, a biblioteca antes gélida de minha escola parecia aconchegada pelo calor tênue de uma lareira. Tornou-se meu lugar preferido..antes mesmo que dentro de mim.Cada dia um livro, cada livro mais descobertas, mais sede, mais desprezo pelo animalzinho televisivo.Quando pensei que tudo nas letras era bom, descobri que alguns eram ainda mais saborosos. Aos 11 anos já trocara os programas infantis pelos jornais, o pique-esconde só me parecia interessante se soubesse que minha mãe pararia de repetir: “ Larga esse livro, vai brincar!”.Ler me transportava, fazia sentir plena, me ensinava sobre o Louvre desconhecido para minhas amigas de roda.Conheci os canais de Veneza em seus tempos gloriosos, sem ratos..rs. Caminhei por muitas estradas nas páginas lidas.Estradas de chão batido, estradas de concreto, estradas da alma. Na maioria delas, esquecia minha solitude ao lado de personagens que nasceram e morreram em páginas de papel, outros nasceram na vida e após morrerem nela, viveram nas linhas escritas.De repente, tudo se fez luz. E a luz veio da escuridão de Byron e Poe. Tornei-me amante da obscura, atormentada e tempestuosa arte de ambos. Lê-los me levou a Kafka, Nietszche... e todos me levaram a muitos outros caminhos.Na maioria das vezes jornadas solitárias,mas ainda assim únicas e povoadas, cheias do que eu ansiava. Assim dei meus titubeantes primeiros passos no mundo da leitura.
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